Ele pode até não ser dos museus do Porto com a agenda mais cheia, nem oferecer exposições cheias de recursos multimídia como outros espaços da cidade, mas o Museu Nacional Soares dos Reis guarda muitos encantos. A começar pelo prédio – o Palácio dos Carrancas –, que começou a ser construído em 1795 e assistiu a alguns dos momentos políticos mais importantes da cidade deste então. Serviu, por exemplo, de quartel-general para as tropas napoleônicas durante a segunda invasão francesa a Portugal, em 1809. Anos mais tarde, abrigou D. Pedro IV durante o cerco do Porto (1832-34).
Além disso, embora só tenha se instalado no Palácio dos Carrancas em 1942, foi oficialmente criado em 1833, o que o torna o museu de artes mais antigo de Portugal. Ao longo dos anos, amealhou uma coleção de mais de 13 mil peças. A maior parte corresponde a desenhos e pinturas, mas o prédio também reserva um espaço grande para esculturas e artes decorativas. Confira algumas das relíquias que podem ser vistas no Museu Soares dos Reis:
1. Busto-relicário de São Pantaleão
Foi doado à Sé do Porto nos primeiros anos do século XVI e contém um osso do crânio do santo padroeiro do Porto. O culto a São Pantaleão na cidade remonta ao período medieval. Segundo relatos da época, após a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, um grupo de armênios teria trazido os restos mortais do santo (martirizado no ano 303 d.C) para o Porto e os depositado na igreja de São Pedro de Miragaia. Embora se desconheça a data em que o relicário foi criado, inscrições na zona inferior do busto sugerem que tenha sido doado à Sé do Porto em 1509.
2. Cristo crucificado
Portugal conserva um número notável de Cristos crucificados produzidos em madeira entre os séculos XII e XV. Este, de nogueira entalhada, foi provavelmente esculpido entre os séculos XII e XIV, na Espanha. Há cerca de seis anos a obra passou por uma restauração que permitiu descobrir as intervenções feitas ao longo dos séculos com o objetivo de adequar a peça ao gosto de cada época. Uma das mais curiosas foi aplicação de pergaminhos para criar chagas abertas e, assim, exacerbar a ideia de dor e sofrimento.
3. Cerâmicas de quatro séculos
É uma das maiores coleções do museu em termos de número de peças e inclui tanto a tradicional faiança portuguesa quanto porcelana chinesa de várias épocas. A faiança nacional tem um conjunto grande de itens, que permite observar a evolução desta arte desde a peça mais antiga da coleção (uma taça de 1621) até as do começo de século XX. Entre a porcelana chinesa, a maior parte foi encomenda europeia do século XVIII, mas o museu guarda também um pequeno núcleo de utensílios dos séculos XVI e XVII. Tudo isso fica no segundo andar do prédio, onde ainda há mobiliário e joias.
4. Vidros dos séculos XVII a XIX
Ainda no campo das peças para mesa, o Museu Soares dos Reis tem uma vasta coleção de vidros espanhóis (sobretudo catalães), portugueses e alemães. Da Boêmia vêm frascos pintados em esmalte, com temas de caráter popular – uma produção bastante comum na Europa Central no século XVIII. Da mesma região são os jarros de vidro coalhado, também pintados à mão com esmalte policromado. São peças únicas, lindas a imperdíveis.
5. Pinturas para conhecer o Porto antigo
Artistas como Silva Porto, Joaquim Lopes e Dordio Gomes pintaram a cidade entre fins do século XIX e começo do XX. São registros preciosos das praias da Póvoa do Varzim, da vista de Vila Nova de Gaia e do desembarque no rio Douro, com a cidade ao fundo. Para quem além de pintura também gosta de história, é um prato cheio. Também merece destaque a coleção de Henrique Pousão, importante pintor naturalista português que se dedicou a retratar a vida e a paisagem de Capri, no sul da Itália.
6. Esculturas de Soares dos Reis
Chegamos finalmente àquele que dá nome ao museu, o escultor portuense António Soares dos Reis. Uma galeria inteira é dedicada às suas obras em gesso, bronze e mármore, com destaque para suas duas obras-primas: O Desterrado, esculpido em Roma, em 1872; e a estátua do Conde de Ferreira, criada originalmente para o túmulo do comerciante, considerado um benemérito da cidade. Com 2,5 m de altura, a estátua é um dos retratos mais colossais do artista, que se suicidou em 1889 em seu ateliê, em Vila Nova de Gaia.