Há muito o que visitar na Ribeira do Porto. Restaurantes, museus, lojas de design e artistas se apresentando à beira do rio costumam atrair legiões de turistas para esta que é uma das zonas mais antigas da cidade. O casario tradicional e os trechos remanescentes da muralha fernandina também são imperdíveis – sem falar na vista para o Douro… Mas para além de todos esses pontos, a Ribeira guarda verdadeiras obras de arte ao ar livre. São esculturas centenárias e homenagens à vida e a personagens da cidade que valem a pena ser contempladas com atenção. Conheça a história de seis delas.
1. “A Estátua do Infante”
É quase impossível chegar à Ribeira sem notar a estátua de bronze no meio na Praça do Infante. Erguido em homenagem à mais importante figura da era das descobertas portuguesas – que teria nascido próximo dali, onde hoje fica a Casa do Infante – o monumento mostra o Infante D. Henrique apontando para além-mar e segurando os louros da vitória em um mão e a bandeira nacional na outra. De fato, a obra de Tomás Costa exalta momentos de glória do infante, como a tomada de Ceuta. Também em bronze, duas alegorias representam a Vitória (conduzindo os corcéis) e a Fé das descobertas. A pedra fundamental da Estátua do Infante foi lançada em 1894, ano do quinto centenário de nascimento de D. Henrique. Toda fundida em Paris, a peça chegou à praça em 1900.
2. “São João do Porto”
A Praça da Ribeira é uma das mais antigas do Porto. De origem medieval, sempre foi ponto de entrada e saída de pessoas e mercadorias. Localizada bem às margens do Douro, até 1721 ficava atrás da muralha que cercava a cidade, por isso não tinha vista para o rio. À medida que o muro foi sendo derrubado, a praça ganhou novos contornos. No final do século XVIII foi aberta a rua São João e construiu-se a icônica fonte que lá está até hoje. O pequeno nicho acima da fonte originalmente ficava vazio mas, no ano 2000, uma escultura de João Cutileiro passou a ocupá-lo. De início, o “São João do Porto” pareceu modernista demais para os moradores, mas acabou sendo incorporado à paisagem da praça e se tornou uma das obras mais famosas da zona da Ribeira.
3. “O Cubo da Ribeira”
Escavações realizadas nos anos 1980 descobriram resquícios de um fontanário que existiu na Praça da Ribeira no século XVII. O monumento foi reconstruído (utilizando-se, inclusive, pedras originais encontradas durante o processo) e, em 1982, a escultura de José Rodrigues passou a decorá-lo. A ideia era que o cubo de bronze parecesse suspenso por um jato d’água. Outras interpretações sugerem que a figura geométrica representaria a maneira como muitos moradores da área se acomodavam, com famílias numerosas dividindo pequenos cômodos (ou cubos). Na época da inauguração a peça gerou bastante polêmica. Acostumada a estátuas equestres ou de grandes figuras da história, a população local acusou a escultura de destoar do entorno. Hoje, no entanto, o “Cubo” é não só uma das principais atrações turísticas da Ribeira como orgulho dos moradores mais antigos – e ai de quem tentar tirá-la dali.
4. “Alminhas da Ponte”
Uma das maiores tragédias da história do Porto está retratada nesta escultura em bronze de Teixeira Lopes. Em 1809, durante a segunda invasão napoleônica a Portugal, milhares de moradores tentaram atravessar para Vila Nova de Gaia pela Ponte das Barcas, que afundou e causou a morte de mais de 4 mil pessoas. A escultura foi inaugurada no fim do século XIX e, ainda hoje, a população ribeirinha deposita ali flores e velas dedicadas aos que morreram. À beira do rio é possível ver uma das estruturas de pedra que serviam de amarração para os cabos de aço da Ponte das Barcas.
5. “O Duque da Ribeira”
O busto de autoria de José Rodrigues homenageia uma das figuras mais populares da zona da Ribeira. Ao contrário do que sugere o nome, Deocleciano Monteiro não tinha nenhum título de nobreza – o apelido Duque foi dado pela própria mãe quando ele ainda era menino (provavelmente para facilitar a vida de ambos, já que o nome Deocleciano, vamos combinar, não é exatamente fácil). Duque era barqueiro e ficou famoso por conhecer o Douro como ninguém. Graças ao conhecimento que tinha das correntezas do rio, salvou muitas pessoas de se afogarem, bem como ajudou na recuperação dos corpos daqueles que não tiveram a mesma sorte. Tornou-se tão famoso na cidade que seu livro de autógrafos tinha a assinatura de personalidades como o ex-presidente Mario Soares e Rainha Elizabeth II. O busto ao pé da ponte D. Luís I foi inaugurado em 1995, um ano antes de sua morte.
6. “Painel Ribeira Negra”
Com mais de 1.700 azulejos pintados à mão, a obra de Júlio Resende conta um pouco da relação da população ribeirinha com o Douro ao longo dos séculos – e antes da ocupação da zona pelo turismo. Mulheres a lavar roupas, crianças se despindo para mergulhar no rio, vendedores de fruta e de peixe são retratados no mural, localizado na entrada do Túnel da Ribeira. Inaugurado em 1987, a história deste mural começou três anos antes, quando o artista decidiu presentear a cidade com um painel em tela com 40 metros de comprimento retratando o cotidiano da Ribeira. A obra homônima foi pintada em branco e preto (daí o “Negra” do nome) e está exposta no Museu dos Transportes e Comunicações (AMTC). Nos anos seguintes, Júlio Resende realizou uma série de estudos até chegar à confecção do painel de azulejos que hoje decora uma das ruas de maior movimento da Ribeira.