É impossível entender a história do Porto sem conhecer a história de seus azulejos. Com características próprias (você sabia que só no Norte de Portugal se produziu o azulejo em relevo?), o revestimento faz parte da identidade cultural e arquitetônica da cidade e assistiu a um sem-fim de transformações que fizeram da Invicta o que ela é hoje. É verdade que praticamente toda esquina do centro histórico tem uma casa ou prédio revestidos de azulejos seculares, mas neste roteiro listamos cinco locais obrigatórios para quem quer mais do que belas fotos no Instagram.
1. Estação São Bento
O icônico edifício é passeio incontornável para quem vem ao Porto, e também a principal estação da cidade. O prédio foi erguido onde antes ficava o Convento de São Bento de Ave Maria, começou a ser construído em 1903 e foi inaugurado oficialmente em 1916. Da estrutura do convento, nada sobrou. E mesmo de seu interior, pouca coisa restou (uma das raras exceções são suas portas entalhadas em madeira, em exposição na Igreja dos Grilos). Apesar da fachada imponente da estação, a maior atração está mesmo no interior: seus mais de 20 mil azulejos, que conferiram a São Bento o título de uma das 16 estações ferroviárias mais bonitas (e fotografadas) do mundo. O que pouca gente sabe é que os painéis assinados por Jorge Colaço traziam uma inovação para a época. É que o artista descobriu que, mudando o processo de queima dos azulejos, conseguia deixar sua superfície menos porosa e, assim, criar o efeito aquarelado, parecido com o da pintura a óleo. Os azulejos que revestem a estação retratam momentos importantes da história de Portugal, como o casamento do rei D. João I na Sé do Porto, em 1387, e a tomada de Ceuta. Também fazem referencia à música, à literatura e às artes plásticas. No alto, próximo ao teto, uma espécie de linha do tempo mostra a evolução dos transportes, de coches do Império Romano até a linha inaugural da estação, ligando o Porto a Braga. É por isso, aliás, que há as inscrições Douro (Porto) e Minho (Braga) no teto da estação.
Praça Almeida Garrett
+351 707 210 220
Todos os dias, das 5h à 1h
2. Igreja de Santo António dos Congregados
Saindo da estação de São Bento e ainda na Praça Almeida Garret, aproveite para visitar a Igreja de Santo António dos Congregados, ou Igreja dos Congregados. Erguida em 1703, no local onde ficava uma capela dedicada a Santo António, ela abriga os restos mortais do Papa São Clemente – o único sepultado fora do Vaticano. Durante o Cerco do Porto (1832-53), as tropas liberais usaram a igreja para guardar armas e munições. Para além de tudo isso, o prédio é um dos mais importantes representantes de um fenômeno típico do norte de Portugal: o revestimento das fachadas de igrejas, a partir de fins do século XIX. No caso dos Congregados, os azulejos de Jorge Colaço (mesmo artista da estação São Bento) foram instalados na fachada exterior apenas em 1929, e representam passagens da vida de Santo António. Outras igrejas que tiveram as fachadas azulejadas no século XX são a do Carmo (1910), a Capela das Almas de Santa Catarina (1929) e a Igreja de Santo Idelfonso (1932). Para entender um pouco mais sobre esse fenômeno nortenho, leia nosso artigo sobre a história dos azulejos no Porto.
R. de Sá da Bandeira, 11
+ 351 222 002 948
Todos os dias, das 7h15 às 18h30
3. Biblioteca Pública Municipal
Quando as ordens religiosas foram extintas em Portugal, em 1834, dezenas de mosteiros e conventos foram expropriados e muitos de seus azulejos se perderam – sendo inclusive vendidos para particulares. Do pouco que restou, a Biblioteca Pública Municipal do Porto guarda um acervo importante. Ali estão painéis produzidos entre os séculos XVII e XVIII que ornamentaram o Convento de São Bento de Ave Maria (onde hoje funciona a estação São Bento) e o Mosteiro de São Bento da Vitória. Eles foram instalados no prédio da Biblioteca entre 1929 e 1932, e estão abertos à visitação gratuita. Há também painéis figurativos, como o da Estigmatização de São Francisco (logo na entrada do edifício), do século XVIII, e exemplares dos chamados azulejos de padrão, produzidos a partir do século XV.
Rua D. João IV, 17
+351 225 193 480
Horário Geral (16/09 a 14/07): Segunda e Sábado, das 10h às 18h; Terça a Sexta, das 9h às 19h30
Horário de Verão (15/07 a 15/09): Segunda a Sexta, das 10h às 18h
4. Museu Nacional Soares dos Reis
Já contamos um pouco da história do prédio e das relíquias que ele guarda nesse artigo aqui. Mas o Museu Nacional Soares dos Reis também reserva surpresas para os curiosos em busca da história dos azulejos. Especialmente no painel instalado em sua área externa. Não se conhece a proveniência exata das peças (teriam sido compradas de uma família de Lamego), mas foram instaladas ali na abertura do museu – que desde 1940 ocupa o histórico Palácio das Carrancas. O detalhe pitoresco é que os azulejos foram mal aplicados, tornando o desenho um pouco confuso. Mas nada muito escandaloso – provavelmente só olhares mais atentos vão conseguir captar esse detalhe…
Rua D. Manuel II
+ 351 223 393 770
Terça a Domingo, das 10h às 18h
5. Banco de Materiais
Não é exatamente um ponto turístico, mas trata-se de uma iniciativa tão interessante que vale a pena ser incluída no roteiro. O Banco de Materiais é uma “reserva visitável” mantida pela Câmara do Porto, com dupla função: museológica e de preservação do patrimônio. A primeira refere-se aos materiais ali abrigados: estuques, ferros, placas toponímicas e azulejos recolhidos de edifícios degradados e vias públicas. O principal acervo é de azulejos. São peças raras, algumas de produção arcaica (como os hispano-árabes) e também de produção portuguesa a partir do século XVII. Tudo catalogado e aberto à visitação pública. Além disso, o Banco de Materiais cumpre uma função importante na preservação do patrimônio arquitetônico da cidade, disponibilizando peças repetidas para moradores que restauram as fachadas de suas casas. Assim, quem faz uma reforma e precisa de azulejos pode recorrer ao local – e, no caso de haver sobras de peças da mesma tipologia, elas são fornecidas gratuitamente. Para completar, o Banco de Materiais está instalado no Palacete Viscondes de Balsemão, um prédio histórico lindo que por si só já vale a visita.
Praça Carlos Alberto, 71
+351 223 393 492
Segunda a Sexta, das 10h às 12h e das 14h30 às 17h30; Sábado, das 10h às 12h30 e das 13h30 às 18h.
E é claro, além desse roteiro bem especifico, uma viagem completa pela história do azulejo no Porto inclui algumas caminhadas sem rumo certo por becos, praças e ruelas com uma boa dose de contemplação do casario antigo. Há pontos turísticos incontornáveis, como o Largo dos Loios, a Praça Carlos Alberto ou o Largo de São Domingos (visto na foto panorâmica que abre este artigo), mas também aqueles cantinhos menos manjados que você só precisa de um bom par de tênis para descobrir. E, para quem quiser se aprofundar um pouco mais na história do patrimônio azulejar do Porto, recomendo o fantástico Guia do Azulejo, da historiadora da arte Nisa Félix.
2 comments
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